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Entrada: Linguado com creme branco
Prato principal: Perdizes acompanhados de molhos acres e
doces, batatas finas, couves de Bruxelas suculentas
Sobremesa: pudim
Bebidas: vinhos de tons amarelos e escarlates
“(...) começou com um linguado servido
numa assadeira funda, sobre o qual o cozinheiro da faculdade espalhara uma
camada de creme mais branco, exceto pelo fato de haver, aqui e ali, algumas
manchinhas marrons, como as que se vê no couro de uma corça. Depois vieram as
perdizes, mas se isto as faz pensar em um ou dois pássaros carecas e marrons
numa travessa, vocês se enganaram. As perdizes, que eram muitas, chegaram com
todo o séquito de molhos e saladas, os acres e os doces, todos na ordem certa;
suas batatas, finas como moedas, mas não tão duras, suas couves-de-bruxelas,
folhosas como rosas, porém mais suculentas. E, assim que havíamos acabado com o
prato principal e seu séquito, os homens silenciosos que nos serviam, e talvez
fossem o próprio reitor numa manifestação mais branda, colocaram diante de nós,
cercada de guardanapos, uma obra que se erguia como uma onda, toda feita de açúcar.
Chamá-la de pudim e, desse modo, associá-lo a arroz e tapioca, seria um
insulto. Enquanto isso, as taças de vinho haviam sido enchidas de amarelo e
escarlate; sido esvaziadas; e voltando a se encher. E assim, gradualmente, foi
acesa, na metade da espinha dorsal, que é a morada da alma, não aquela luzinha
elétrica forte que chamamos genialidade, quando ela entra e sai pelos nossos
lábios, mas o fulgor mais profundo, sutil e subterrâneo que é a chama viva e
amarela da conversa racional.”
Virgínia Woolf. Um quarto só seu.
Editora Bazar do Tempo. 2020. P. 27 e 28.
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